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Projeto realizado por estudantes de jornalismo do 4º período, da PUCPR, na disciplina de Jornalismo de Dados, orientada pela professora Criselli Montipó

Jornalismo de Dados - 4º período PUCPR

“EU NÃO SOU O QUE OS OUTROS VEEM DE MIM”

Cerca de 20% dos adolescentes em Curitiba têm obesidade segundo dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN)

A estudante de publicidade, Suellen Kais Negrello, tem hoje 19 anos e quando adolescente precisou fazer uma cirurgia bariátrica porque estava com sobrepeso. Desde os 3 anos de idade Suellen foi “muito gordinha”, em suas palavras, mas mesmo assim era bem resolvida com o corpo. A estudante conta que na fase da adolescência queria mudar um pouco a aparência e então fazia dieta e praticava atividades físicas e natação. Com 16 anos, sua mãe percebeu que ela estava engordando muito rápido. E então, procuraram um gastroenterologista, que pediu um exame de glicose, já que os exames de sangue estavam bons. 

Suellen
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Depois do primeiro diagnóstico, Suellen fez uma bateria de exames e realizou a cirurgia bariátrica, sempre com o acompanhamento de uma psicóloga. “Gente de fora vinha me falar que achava errado eu fazer (cirurgia bariátrica), mas era uma opinião deles, eles não sabem o que eu estava passando, então isso não me atingia, eu nem ligava para falar a verdade”, lembra Suellen. No final do ano em que fez a cirurgia a jovem perdeu 30 quilos. 

Suellen
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Atualmente Suellen está bem e seu pâncreas está sem sofrência e estabilizado. E para outros adolescentes que estão passando por situação parecida, ela deixa seu recado:

Suellen
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Entendendo a obesidade

O diagnóstico da obesidade é feito na maioria das vezes através do cálculo de índice de massa corpórea (Índice de Massa Corpórea - IMC), como explica o doutor Pisani. “O normal seria até 25, de 25 a 30 é considerado sobrepeso, de 30 a 40 já é obesidade, e de 40 para cima seria aquela obesidade mórbida que precisa de tratamento diferenciado”.

Antes da investigação de dados a reportagem buscou entender o que é a obesidade e quais os impactos dela na adolescência e possíveis consequências na vida adulta. O professor doutor em gastroenterologia da Universidade Federal do Paraná, Júlio César Pisani, explica que a obesidade é multifatorial, ou seja, uma doença causada por várias circunstâncias. Pode ter  causas biológicas e genéticas, existem casos em que filhos de pais obesos acabam desenvolvendo a doença, embora isso não sejam um fator determinante. E pode ter ainda causas relacionadas com o meio ambiente e com o comportamento das pessoas. 

Para a nutricionista clínica e esportiva, Andressa Mushashe, a obesidade na adolescência pode ser um reflexo da amamentação e má introdução alimentar. O leite materno, indispensável para o crescimento adequado, desenvolvimento cognitivo e psicológico e fortalecimento do sistema imunológico de todo ser humano em seus primeiros meses de vida, não é incentivado e nem orientado de maneira correta pelos profissionais da saúde, fazendo com que muitas mães tenham que recorrer às fórmulas infantis, isso dificulta a aceitação de alimentos na fase de introdução alimentar.

Nutricionista - Andressa Mushashe
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Além das dificuldades na manutenção de hábitos alimentares saudáveis, realidade em muitas famílias, o convívio social e a rotina escolar podem estimular o consumo de alimentos inadequados pelos adolescentes, “na fase da adolescência há uma absoluta necessidade de estar inserido e ser aceito por um grupo, e a grande maioria têm vergonha de consumir alimentos saudáveis na frente dos colegas, especialmente a alimentação ofertada pela escola”, explica Andressa.

Nutricionista - Andressa Mushashe
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A nutricionista afirma que a obesidade nas fases da infância e da adolescência podem comprometer o crescimento; a formação óssea e muscular; a maturação e secreções hormonais; o desenvolvimento cerebral e psicomotor; o equilíbrio da manutenção de neurotransmissores a multiplicação celular e correta sequência de DNA, que pode favorecer o surgimento de cânceres.

Nutricionista - Andressa Mushashe
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Além disso, sabe-se que uma criança ou adolescente obeso tem uma enorme chance de ser um adulto obeso, fazendo necessário os cuidados e tratamentos o quanto antes possível. O doutor Pisani acrescenta outros riscos que a doença pode trazer à saúde do adolescente futuramente, como hipertensão arterial, diabetes,  infiltração gordurosa do fígado, presença de hepatite e doenças cardiovasculares.

A cirurgia bariátrica, em casos de obesidade, é bastante recorrente pelos pacientes diagnosticados, e ela ainda causa divergências de opinião entre os especialistas. Pisani acredita que a indicação da cirurgia nestes casos devem ser feitas com responsabilidade.

Gastroenterologista Júlio Pisani
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A importância da terapia no tratamento da obesidade

Problemas com a autoestima, socialização e doenças mentais e psicológicas também podem afetar o adolescente com obesidade e sobrepeso. Além do acompanhamento médico e nutricional que o adolescente precisa, a terapia é também de suma importância. 

A psicóloga, Alessandra Ehlke Mucerino, que atualmente está cursando a especialização de comportamento alimentar e transtornos alimentares pelo Instituto de Pesquisa do Comportamento Alimentar de Curitiba (IPCAC), explica que o acompanhamento psicológico é feito para trabalhar com o paciente obeso diversas questões relacionadas à família, ao sofrimento, ao estresse, à aceitação pessoal, entre outras.

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"Vergonha de consumir alimentos saudáveis na frente dos colegas"

Andressa Mushashe

Psicóloga Alessandra Mucerino
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A insegurança com o corpo nesta fase é comum entre a maioria dos adolescentes. Existe um fator cultural na sociedade sobre o que é bonito e o que não é, então os adolescentes que têm essa insegurança - por serem obesos ou por outros motivos também - acabam se auto colocando em uma postura negativa. 

A terapia ajuda o adolescente a entender de onde vem a autoestima baixa e estimular a autoaceitação, “ a gente trabalha que a pessoa não é o corpo dela, a pessoa é ela, e ela tem esse corpo e diversas outras características”, diz Alessandra. 

Psicóloga Alessandra Mucerino
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Além do mais, para a psicóloga é importante ainda o apoio familiar enquanto o adolescente está passando pela obesidade, para que o tratamento seja o mais tranquilo possível, e para que ele entenda que não está sozinho durante o processo que é lento e os resultados não são imediatos.

Em Curitiba, o curso de Psicologia da FAE Centro Universitário, promove o Grupo de Apoio ao Obeso (GAPO), um projeto que busca criar um espaço para reflexão e troca de experiências para auxiliar pacientes em situação de obesidade a lidar com seus desafios no processo de emagrecimento.

A obesidade no

Brasil atinge

quase 20%

da população

Dados alarmantes

O número de crianças e adolescentes obesos aumentou cerca de dez vezes na última década, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o que causa preocupação na população mundial. No Brasil, o fato é igualmente alarmante, o país vem enfrentando este aumento de casos de obesidade e sobrepeso que hoje é considerado um dos maiores problemas de saúde pública, segundo dados da Política Nacional de Alimentação de Nutrição (PNAN) de 2013.  Nas últimas quatro décadas, em torno de 20% dos adolescentes brasileiros apresentaram excesso de peso e quase 6% (sexo masculino) e 4% (sexo feminino) destes jovens foram classificados como obesos.

A partir destes dados, a reportagem procurou investigar o motivo deste aumento de casos de obesidade em adolescentes, focando especificamente na cidade de Curitiba. A capital paranaense não possui os dados mais altos do país, mas continuam sendo motivo de alerta. Dados nutricionais divulgados em 2018 pelo Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), apontam que entre os adolescentes de Curitiba 20.07% estão com sobrepeso, 12.45% têm obesidade e 5.49% têm obesidade grave.

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.069, de 1990, adolescência abrange de 12 a 18 anos de idade (artigo 2º)

O que o governo tem feito?

Com base nas entrevistas com os especialistas que indicaram principalmente um fator de má alimentação e cuidados com a saúde nos dias de hoje, a reportagem buscou investigar o que os órgãos públicos de Curitiba e do estado do Paraná buscam fazer para diminuir os casos.

O contato com a Secretaria de Saúde do Paraná, durante o processo de realização da reportagem, não foi respondido. Mas, a Secretaria de Educação - responsável pelos adolescentes que estudam na rede pública, atendeu a equipe de reportagem e explicou que desenvolveu o Programa de Alimentação Escolar com o intuito de promover uma alimentação balanceada para os alunos da escolas estaduais. Esse programa determina quais alimentos serão distribuídos e como serão organizados, auxilia na prevenção de doenças crônicas entre crianças e adolescentes e também conta com a ajuda de nutricionistas e profissionais da área de saúde. 

Todos os alimentos são provenientes da Agricultura Familiar e são distribuídos em 1807 escolas do estado. Outros órgãos como a Coordenação Alimentação e Nutrição Escolar (CANE) e o Conselho Estadual de Alimentação Escolar (CEAE) também trabalham em conjunto na questão alimentícia dentro das escolas. 

Este projeto abrange os estudantes de maneira geral, porém não existe nada específico para adolescentes com sobrepeso ou obesidade, e não existem projetos futuros em andamento que busquem diminuir os casos de obesidade em adolescentes. os nutricionistas apenas montam cardápios saudáveis que se adequem para todos os estudantes.

Frutas, legumes e verduras podem proteger os adolescentes da obesidade

Serviço

Em Curitiba, existem diversos programas que oferecem auxílio à pessoas com obesidade. A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) surgiu em 1986, com o objetivo de difundir o conhecimento sobre a doença, suas formas de tratamento e prevenção. Ela conta com o apoio de profissionais de diversas áreas da saúde, como a medicina, psicologia e outros. Além disso, várias instituições promovem grupos de apoio psicológico, como o GAPO (Grupo de Apoio Psicológico a Obesos) da faculdade FAE, o Centro de Qualidade de Vida (CQV) da Clinipam e o Instituto de Pesquisa do Comportamento Alimentar de Curitiba (IPCAC).

 

Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO)

Telefone: (11) 3079-2298

Whatsapp: (11) 95252-3813

​

Grupo de Apoio a Pacientes Obesos (GAPO)

Dias: quinzenalmente, às sextas-feiras, das 17h às 18h30.

Endereço: Sala de Grupos do Serviço-Escola PsicoFAE – Rua 24 de Maio, 135 – Centro, Curitiba - PR

Telefone: (41) 2105-4826

​

Centro de Qualidade de Vida (CQV) - Clinipam

Telefone: (41) 3021-2030 

​

Instituto de Pesquisa do Comportamento Alimentar de Curitiba (IPCAC)

Endereço: Rua Pasteur, 820 - Batel, Curitiba - PR, 80250-080

Telefone: (41) 3023-0450

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